Que rei sou eu
sem palácio sem coroa
vivendo à-toa
vida má nem boa
a espera do novo
a bicar a casca do ovo
para entrar em cena e devorar
estátuas empertigadas
Que rei sou eu
a imolar o mundo da fantasia
no fundo de um palco fosforescente
onde se transfigura a criatura
Que rei sou eu
que toda noite se veste
com as cores da ilusão e desfila
na passarela do sonho
Que rei sou eu
que pernoita na plataforma
afrodisíaca do pensamento
e colhe mensagens
que liberam ósculos da liberdade
retidos nas malhas do universo
pelo portal soberano dos deuses
Que rei sou eu
lacaio dos próprios desejos
estocados no balaio
do pensamento
Que rei sou eu
na magreza dos dias
coleira de ouro rasgada
puída pela nobreza
vegetando no silêncio
na solidão do asfalto
cadafalso da noite estrábica
no mar da desilusão
Que rei sou eu
astro que vira capacho
da arte dramática
espelho da desordem
num mundo vesgo
Que rei sou eu
que anda na lua e retorna
aos farrapos
até cair no cansaço
do mundo oco
Massacre
de ídolos dourados
Nety Maria Heleres Carrion
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