Soldo da noite
Viro
desviro a noite
e solto o verbo
como quem não quer
nada
Saio
a procura do nada
e nada encontro
a não ser
o soldo
da noite
Nety Maria Heleres Carrion
***
Ata
O pouco que sei
registrei em ata
que retrata
meus passos na calçada
O pouco que sei
poetisei
para que não se perca
na lufada
do vento
Nety Maria Heleres Carrion
***
Sonhos multicores
Me insiro no contexto
erigido pelo meu pensar
Percorro o espaço sideral
e desafio regras e conceitos
Com asas da liberdade
voo em busca do meu eu
que rejeita togas do saber
uso de vernáculos
e concordâncias
enraizadas na língua
Quero deslizar
em fuga monitorada
pelas telas da imaginação
O que eu quero
é cantar
é chorar
é viver
no cenário aristocrático
da poesia
Eu só não quero
é deixar a poesia à deriva
sem salvo conduto
pois é meu arrimo
é parte de mim
e eu sou parte dela
Eu só não quero
é me enclausurar em versos
malversados
pela obediência cega
aos rituais impostos
pelas tábuas demagógicas
da linguagem
Nety Maria Heleres Carrion
***
O oscar da poesia
desprende sais de alegria
que induz o poeta
na marcha em busca
da perfeição
do absoluto e do belo
que propõe a poesia
Nety Maria Heleres Carrion
***
Farelos da fala
Envolvo céus e terras
com o universo teimoso
do olhar
Que me segura
que saltita nos ares
que dispara cascatas
de ilusões
Libero a consciência
e me delicio
e adormeço
enclausurado no tempo
sem ida nem volta
Não penso na consequência
qualquer que seja
o desfecho
Fecho o livro tremido
com a fala que o absorve
gole após gole
Engulo os farelos
da fala
Concluo obra por obra e passo
fantasia chorosa
Acordo sem teto e sem chão
cada vez que o coração
é tomado pela emoção
Nety Maria Heleres Carrion
***
Viro do avesso
Nas minhas juras
até juro
desconjuro
creio
desconfio
viro do avesso
Juro e só paro de jurar
quando a jura não surtir
efeito
Corto as juras
em mil pedaços
para que não levantem falso
e despedacem
as juras que faço
Nety Maria Heleres Carrion
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