Vigília poética
Escalo os picos mais altos
em busca da arte das artes
que se banqueteia
na demência do verso e parte
sem rumo
sem céu e sem chão
que abrigue e dê substância
ao seu dom
Vigio a arte e a arte me vigia
numa vigília poética
sacudida pelas sementes
da poesia
que transpassam quimeras
e pousam nos versos
Nety Maria Heleres Carrion
***
Plenitude
O sábio
atrai a plenitude do pensamento
para dentro do oráculo do templo
enquanto vozes descabeladas
estouram em campo aberto
O sábio
verte conhecimentos e despenca
no ser ou não ser
O sábio
constrói seu estandarte
embasado na meditação
que o leva aos píncaros do deserto
onde abstrai a lógica
e busca fantasia filosófica
da questão
Nety Maria Heleres Carrion
***
SOS
Um novo dia pede passagem
de ida e volta
Um novo dia que o anterior
amorteceu e apagou
A teia de babel risca o céu
dispersa labaredas
enrosca línguas
flamejantes e lança
riqueza ortográfica
sobre as redes vivas
da imaginação
A noite enferma
transporta o peso devastado
da terra
Expectadores inertes
esperam que a terra não vacile
na sua tortuosa trilha
imposta pelo desleixo
de quem a recebeu
por empréstimo
Numerosa platéia assiste
ao desmoronar da terra
que estende
braço amigo e ampara
perplexa
a seus filhos
A terra derrama copiosas lágrimas
sobre seu manto
onde criaturas pensantes
cospem chamas
SOS
nos céus
nas terras
nas águas
pois a terra alegra-se
com sua doação e chora
pelas extravagâncias
Nety Maria Heleres Carrion
***
Linhas
Rabisco linhas
sem princípio
nem fim
esperando que segredem
o que querem de mim
Nety Maria Heleres Carrion
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