quinta-feira, 31 de março de 2011

Poemas de Nety Maria Heleres Carrion

Soldo da noite

Viro
desviro a noite
e solto o verbo
como quem não quer
nada

Saio
a procura do nada
e nada encontro
a não ser
o soldo
da noite

Nety Maria Heleres Carrion

***

Ata

O pouco que sei
registrei em ata
que retrata
meus passos na calçada

O pouco que sei
poetisei
para que não se perca
na lufada
do vento

Nety Maria Heleres Carrion

***

Sonhos multicores

Me insiro no contexto
erigido pelo meu pensar

Percorro o espaço sideral
e desafio regras e conceitos

Com asas da liberdade
voo em busca do meu eu
que rejeita togas do saber
uso de vernáculos
e concordâncias
enraizadas na língua

Quero deslizar
em fuga monitorada
pelas telas da imaginação

O que eu quero
é cantar
é chorar
é viver
no cenário aristocrático
da poesia

Eu só não quero
é deixar a poesia à deriva
sem salvo conduto
pois é meu arrimo
é parte de mim
e eu sou parte dela

Eu só não quero
é me enclausurar em versos
malversados
pela obediência cega
aos rituais impostos
pelas tábuas demagógicas
da linguagem

Nety Maria Heleres Carrion

***

O oscar da poesia
desprende sais de alegria
que induz o poeta
na marcha em busca
da perfeição
do absoluto e do belo
que propõe a poesia

Nety Maria Heleres Carrion

***

Farelos da fala

Envolvo céus e terras
com o universo teimoso
do olhar

Que me segura
que saltita nos ares
que dispara cascatas
de ilusões

Libero a consciência
e me delicio
e adormeço
enclausurado no tempo
sem ida nem volta

Não penso na consequência
qualquer que seja
o desfecho

Fecho o livro tremido
com a fala que o absorve
gole após gole

Engulo os farelos
da fala

Concluo obra por obra e passo
fantasia chorosa

Acordo sem teto e sem chão
cada vez que o coração
é tomado pela emoção

Nety Maria Heleres Carrion

***

Viro do avesso

Nas minhas juras
até juro
desconjuro
creio
desconfio
viro do avesso

Juro e só paro de jurar
quando a jura não surtir
efeito

Corto as juras
em mil pedaços
para que não levantem falso
e despedacem
as juras que faço

Nety Maria Heleres Carrion

domingo, 27 de março de 2011

Velhos tempos__Jane Beatriz Ehlers Ruiz

Velhos tempos

Antigamente os pais acreditavam
no professor

Hoje
os pais acreditam nos filhos

Amanhã
o que será do filho

Jane Beatriz Ehlers Ruiz

Em http://ehlersruiz.blogspot.comm/

Poemas de Dilson Zanenga Ramos Ruiz

Coitada

não fez nada e apanha tanto
Todo mundo chuta
todo mundo quer chutar
É de bico é de boleio
até de soco
às vezes
Jogam-na pro mato
dizendo que é jogo
de campeonato
e coitada
volta arranhada
Dão de sola
jogando-a para escanteio
Todos batem
sem dó nem piedade
dizem que é coisa feita
sina ou destino
Sei lá
Só sei que a bola nasceu mesmo
é pra apanhar

Dilson Zanenga Ramos Ruiz
Em http://ehlersruiz.blogspot.com/
***

Pé quebrado

Um poema
que li no ônibus
não tinha sentido
nem sentimento
É um arrependimento
O poeta estava pouco inspirado
fez um verso
de pé quebrado

Dilson Zanenga Ramos Ruiz


***

Passe livre

Nos bancos da frente
dos ônibus da Capital
muitos anos acumulados
experiência
idade
esperança
Sorriso estampado
pelo direito adquirido
legitimamente

Dilson Zanenga Ramos Ruiz

***

Parente

E na noite quente
o mosquito
virou meu parente
Sangue
do meu sangue

Dilson Zanenga Ramos Ruiz

Poemas de Zaira Cantarelli

mar
    rio
     pirata
         ata
    desata
afluentes
que em mim
desaguam.

***

Na noite
pedaços de silêncio
jorram segredos guardados
no outro lado da luz.
A lua surge e me diz:
- uiva !
e eu pulo para cair
dentro de ti.

Zaira Cantarelli

sexta-feira, 25 de março de 2011

Bilhete__Mario Quintana

BILHETE

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana

Ficar__Dilson Zanenga Ramos Ruiz

Ficar

Como é bom ficar
mexer
guardar
arrumar
organizar

É muito bom sair
mas melhor ainda ter pra onde voltar
porque há momentos na vida
em que tudo que queremos
é voltar pra casa
pro aconchego do lar

Dilson Zanenga Ramos Ruiz
janeedilsonzanenga@gmail.com

Vida__Jane Beatriz Ehlers Ruiz

Vida

Deixa te envolver pela música
da vida

Escuta e te envolve
pela letra

A letra você faz
a entonação de voz
você tem

O ritmo
você conduz

O som
você deixa propagar
e ela vai de vento em popa
porque o melhor da vida
é deixar que ela flua
pelos contornos floridos
que você
da melhor maneira
quer conduzi-la

Seja você
o condutor desta maravilha
que é a vida

Jane Beatriz Ehlers Ruiz
janeruiz@hotmail.com

Poemas de Dio Santanna

1
arde
entre
os ossos
e a alma
resto-me

2
se esse tal
de destino
está brincando
comigo
não sei não
agora é tarde....
já entrei
na contramão.

***

quero perder-me
até que minha
alma
beba a última
gota

***

ao querer-te
me desfaço
de meus eus
e volto
a perder-me

***

por debaixo
da pele
entre
a carne
e os ossos
estás tu

***

teu gosto
invade
minha boca
e mato
minha fome
de ti...e quero
mais e mais
e volto a querer

***

teu olhar
ainda assim
não consegue
mentir
tuas ausências
ainda assim
te trazem pra mim

***

ainda trago
sob minha pele
teu cheiro
de homem
que não sai
de mim

***

ainda

eu
em
mim

***

arde
entre
os ossos
e a alma
resto-me

***

se esse tal
de destino
está brincando
comigo
não sei não
agora é tarde....
já entrei
na contramão.

***

mente
tua mente
teu gozo
é meu confidente

entre
ela e eu
um elo
poesia

Dio Santanna
Em http://http://wwwfrida-almanua.blogspot.com/

O Livro sobre Nada__Manoel de Barros

O Livro sobre Nada
Manoel de Barros


* Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
* Tudo que não invento é falso.
* Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
* Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
* É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
* Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
* Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
* A inércia é o meu ato principal.
* Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
* O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
* A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
* Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
* Por pudor sou impuro.
* Não preciso do fim para chegar.
* De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
* Do lugar onde estou já fui embora.

quinta-feira, 24 de março de 2011

José Eduardo Carrion

Na forja
se aquece o ferro

A ferradura
o ferreiro
com o malho modela

Firma o cavalo nas patas
puxa a carruagem
de alguma criatura

José Eduardo Carrion

***

Levando às costas

a mochila
pequena picareta
cantil
com água potável
marmita
com refeição fria

No coração
saudade da família

José Eduardo Carrion

***

Vende-se uma gata
angorá
com cria

Quatro filhotes

de brinde

José Eduardo Carrion

Mudo a tudo__Nety Maria Heleres Carrion

Mudo a tudo
mudo tudo

Mudo meu sol
mudo meu chão
escorrego nas farpas
do coração

Só não mudo o meu tudo
por nada deste mundo

Só não mudo

porque mudo a este mundo
não sou

Nety Maria Heleres Carrion

Que rei sou eu__Nety Maria Heleres Carrion

Que rei sou eu
sem palácio sem coroa
vivendo à-toa
vida má nem boa
a espera do novo
a bicar a casca do ovo
para entrar em cena e devorar
estátuas empertigadas

Que rei sou eu
a imolar o mundo da fantasia
no fundo de um palco fosforescente
onde se transfigura a criatura

Que rei sou eu
que toda noite se veste
com as cores da ilusão e desfila
na passarela do sonho

Que rei sou eu

que pernoita na plataforma
afrodisíaca do pensamento
e colhe mensagens
que liberam ósculos da liberdade
retidos nas malhas do universo
pelo portal soberano dos deuses

Que rei sou eu
lacaio dos próprios desejos
estocados no balaio
do pensamento

Que rei sou eu

na magreza dos dias
coleira de ouro rasgada
puída pela nobreza
vegetando no silêncio
na solidão do asfalto
cadafalso da noite estrábica
no mar da desilusão

Que rei sou eu

astro que vira capacho
da arte dramática
espelho da desordem
num mundo vesgo

Que rei sou eu

que anda na lua e retorna
aos farrapos
até cair no cansaço
do mundo oco

Massacre
de ídolos dourados

Nety Maria Heleres Carrion

Dio Santanna

1
sou o que
pude
de mim

2
alas rotas"

te voy a sentir
aunque te vayas
de mí...

mi vuelo
me llevará
y lo que será
será...

3
escancaro
minha poesia
que respinga
teu vazio
de vida

4
onde vou
te encontro
em mim

e te exorciso

em cada
gozo
não sentido

5
venho a mim
uma vez mais

Dio Santanna
Em http://http://wwwfrida-almanua.blogspot.com/

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu e o mundo__Nety Maria Heleres Carrion

Eu e o mundo

Exponho o meu eu ao mundo
sem preconceitos

O meu eu tem horizontes
centrados no lirismo da poesia

Abriga o eu do mundo
num compromisso poético

Capta melodias
contrastes e mescla
a sabedoria do mundo

O meu eu
que é o eu do mundo

Eu e o mundo

Nety Maria Heleres Carrion
Em http://gotasdamemoria.blogspot.com

Quase que a noite__José Eduardo Carrion

Quase que a noite
me atropela

José Eduardo Carrion

Mergulho__José Eduardo Carrion

Mergulho
na escuridão
para enxergar
a verdade

José Eduardo Carrion

O céu é o limite__Nety Maria Heleres Carrion

O céu é o limite

Convoco céus e terras
num elo de oração

Recebo óbolo
reparto em mil pedaços
e peso cada ato
para que de fato
surta o efeito desejado

Me desarmo
da cabeça aos pés
para que tudo flua
com sentimento e fé
e nada nada se perca
por entre arestas negativas

Derreto o gelo
ao longo do caminho e rego
o chão do mundo
com mil gotas perfumadas

Nessa jornada poética

Acredite

O céu é o limite
para todo aquele
que sai pelo mundo da fantasia
e gagueja nas letras
até chegar ao verso
sem receios ou medos
em busca de respostas
para seus devaneios

Nety Maria Heleres Carrion
Em http://gotasdamemoria.blogspot.com

Por Momentos__Rosalva Rocha














Por momentos
(por Rosalva Rocha – 15/03/11)

Por momentos
Sou eu mesma, mulher normal
Em outros
Uma camaleoa
À toa
Que voa
Que troca a pele
E repele
Muito do que vê pela frente

Por momentos
Sou plena, satisfeita
Em outros
Um cão sem dono
Sem adorno
Morno

Por momentos
Sou alegre, feliz
Em outros
Uma enxurrada de lágrimas
Que varre o meu rosto
Nas madrugadas

Momentos díspares
Contraditórios
Que me enlouquecem
As vezes fortalecem
As vezes esmorecem

Momentos de uma mulher
Que precisa centrar-se
Para penetrar
No seu próprio “eu”
Um “eu” as vezes desconhecido
Mas sempre perseguido
Para poder flanar
Por esse mundo
Tão cheio de contradições
Onde nem sempre há perdão
Com tanta solidão
Mas com tamanha emoção

Por momentos sou assim
Uma nuvem que passa
Deixa o seu rastro
E retorna na próxima noite
Com certo descompasso

Mas nuvem é tênue, leve
E com essa leveza
Pretendo levar a minha vida
Sem pensar no que acontecerá
Transformando-a em berço
Para eu descansar o meu corpo
E ter consciência de que mereço

terça-feira, 22 de março de 2011

Estações__Paola Caumo

Colher de chá__Mario Pirata

Alice disse,
ou o chapeleiro?
Nem um, nem outra.

Falar poesia, uma por uma,
antes que ela suma,
pois falar da burrice
é uma tolice.

A mão seguiu a boca,
depois escreviveu
para a Rainha Louca.

Assinando,
fiel brincadeiro.


Em http://mariopirata.blogspot.com/

Razão de ser_Paulo Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Os poemas_Mario Quintana


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

em Esconderijos do Tempo