terça-feira, 3 de maio de 2011

Poesia Concreta de Haroldo de Campos

de sol a sol
soldado
de sal a sal
salgado
de sova a sova
sovado
de suco a suco
sugado
de sono a sono
sonado

sangrado
de sangue a sangue

Haroldo de Campos

domingo, 1 de maio de 2011

Poemas de Maria da Conceição Silveira Hipólito

Anjos
        (MC.Hipolito)
Pequeninos
ninos
ninas
anjos
tocam banjos
alaudes
harpas e
ou cantam hinos?

NOS JARDINS
Estranhamento
jardins suspensos
dividem espaço
com o cimento

PÁSSARO
Pousou no meu sonho
voou no meu pensamento
seu canto trinou um lamento

SEM ASAS
Voo
pelos labirintos
da casa

Maria da Conceição Silveira Hipólito

sábado, 16 de abril de 2011

Coisas afins__Nety Maria Heleres Carrion

Coisas afins

No espaço sem fim
uma estrela me conduz
a muitos universos

Brinca
com as cores e os gestos

Me desperta
e me faz feliz

Me faz sonhar
com tempos
heróicos

Luz
em todas as direções

Sob o espaço sem fim
no recanto débil
do coração

A chama da esperança

No espaço sem fim
o que seria de mim
sem o abraço
do mundo

Abarco dádivas
aqui e ali

Sob o espaço sem fim
vibra a semente
do verbo

Ecos
de paz
tão perto de mim

Nesse universo sem fim
jogo tudo pro alto
e me renovo
num salto

Sem pousar
no fim
ou no começo
da jornada
que abriga
a minha estrela

Nesse espaço sem fim

Sei

Que nada sei
dos escritos nas estrelas

Linhas sem fim
recheadas de sabedoria

No espaço sem fim

Eu e tu

Coisas afins

Nety Maria Heleres Carrion

terça-feira, 12 de abril de 2011

Filho pródigo__Nety Maria Heleres Carrion

Filho pródigo

Colo a sombra dos meus ais
no solado da vida
onde vibrará sob os passos
descompassados
das rugas dos caminhos

Nada sei do amanhã

O ontem
se desprendeu de mim

Bolhas de ar que chegaram ao fim
sem perguntar se era assim
se eu queria esse fim
para mim

Importa que essa mensagem torta
chegue morta
na reta final

O agora me seduz e libera tudo
que sempre quis

Libera sonho
libera fantasia
libera esperança
aqui e ali
nos croquis da vida

O depois
trará respostas com sentenças
de prós e contras

Alei meus versos para que voem
às terras do sem fim
e voltem sempre
para mim

Dei carta branca aos meus versos
status
amor
liberdade
para que fiquem longe de mim
mas regressem ao ninho
condecorados
pelos troféus e medalhas
nos saraus poéticos da vida

São versos do meu mundo
para o mundo

Abrirei as portas dos meus versos

Terão passaporte vitalício
e quem sabe eterno
para que percorram o universo
e como um filho pródigo
à casa paterna retornem
com vestes brancas
louros e coroas

Condição sine qua non

Que na sombra da noite
ou do dia
se acheguem a mim
sem perdas e danos
para serem acarinhados
após cada missão.

06/04/2011
Nety Maria Heleres Carrion

sábado, 9 de abril de 2011

Um poema__Paulo leminski


um poema

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Paulo leminski

Poemas de Júlio Alves

sim rio
sigo indo

sem margem
sem dentes

                                   júlio alves
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-**-*-*-*-**-*-*-*

tempo mudo
tempo observo
tempo colho

dias passam
anos coleciono

                                   júlio alves
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-**-*-*-*-**-*-*-*

jardim de flores plásticas
beleza estática
borboleta esquizofrênica
poliniza polipropileno

                                    júlio alves
*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-**-*-*-*-**-*-*-*

Poemas de Scyla Bertoja

TOM MAIOR

Espalhou aquarelas
de flores tão belas
e amou todas elas.
Brancas, verdes, amarelas.

Amou as mulheres,
amou os amigos,
os bichos, os livros,
as águas de março.
Cantou com Sinatra, com Elis.
A felicidade, a cidade feliz.

E agora, Maestro?
Sem mais, vais embora
como um passarinho.

Cidade cinzenta
chora de saudade.
É o fim da picada.
É o fim do caminho.

Scyla Bertoja

***

HERESIA

No altar a lâmpada votiva
entre lírios brancos
exibe do sagrado a chama perene
alimentando de fé aos iniciados.

vejo teu rosto além do lume
porque a retina alcança além do altar
a visão transcende o limite dos olhos
que encantados foram pelo teu olhar

agora entrego-me à contemplação
beirando heresia endeuso um semideus
embora adivinhe Odisseus ao mastro acorrentado
tendo com cera os ouvidos tampados

libera-te e não temas
ora dormem as sereias
porque de amar e de cantar exaustas
transmutados seus encantos
são apenas conchinhas na areia
afogadas que foram por marés de prantos

Scyla Bertoja

***

CINZA

gosto
mais de janelas fechadas
que não deixam
passar a claridade
nem quero
ver as luzes da cidade
sou como os pombos
dias cinzentos são belos
para mim
passaria meu tempo
de bom grado
arrulhando
sobre velhos telhados
nos fundos
das casas velhas
do Bom Fim

Scyla Bertoja

***

COLETIVO - 2008

Lá na avenida passando
Iluminadas janelinhas
Dos chamados coletivos
Como colares de contas
Feitos de puro cristal
Pra enfeitar a linda imagem
Da noite da capital
E essas mágicas jóias
Vão apinhadas de sonhos
Dramas e tragédias
Amores, dores, comédias
De moços, velhos e anjos
Sem contar alguns demônios
E todos querendo chegar
Com a mesma pressa ao porto
Pois desejo do coração
É o aconchego do lar
“Corre, corre, cria asas,
vai ligeiro, vai depressa,
devora essas avenidas,
queremos voltar pra casa”.

Scyla Bertoja

***

INEVITÁVEL

nasceu agora
desconhece a sede dos desejos
e a fome não sentiu
desses teus beijos
não a tentes, por Deus
anjo inocente, indefeso
lhe ensinarei o medo
repetirei que é cedo
direi que és o demônio
embora saiba
farás o teu ofício à perfeição
e um dia
em teu olhar que seda
com voz macia
queira eu, ou não
ela se encanta
e cede

Scyla Bertoja

***

O DIA – 2000


Maria
amanhecia rosa orvalhada
ao vento da manhã
cedo demais
em plena madrugada
na ânsia de viver

João
pele dourada
mãos calejadas
plantava e colhia
inquieto coração
já era meio-dia

mas havia um lugar
onde o tempo
por passatempo
lhes concedia tempo
para amar
por um momento

ao fim
Maria sol-a-pino
João escuridão

Maria dor e solidão
sem mais tempo
passa o tempo
lembrando João.

Scyla Bertoja

***

ÔNIBUS (agosto/2000)

Meu vizinho tinha um ônibus
que era a coisa mais linda
do meio pra cima, azul
do meio pra baixo, branco
durante a semana, sujo
mas no domingo, tão limpo
que parecia que andava
nas nuvens, sem encostar
nenhuma roda no chão

O ônibus era grande
eu, então, pequenina
que lindos bancos aqueles
para brincar de casinha
e tinha muitos lugares
reservados
para personalidades
que eu havia convidado:
A filha de Dona Rita
que já dançava balé
e o dono do armazém
que tocava acordeão
e seus quatro netos
e a Pina
que era mãe de criação
e o filho da vizinha
que tinha cabelos negros
e bochechas rosadinhas
e que sempre que podia
se atrasava no caminho
para andar junto comigo
e com outras menininhas
chutando as folhas do chão
colecionando pedrinhas
mas, no ônibus,
ele sentava
com a minha melhor amiga

Scyla Bertoja

***

PREOCUPAÇÃO TRANSCENDENTAL Setembro-2001

nasci perfeita
e fui me transformando
mais e mais adiante
fui ficando pior
fazendo tudo errado
ignorante
me ensinaram o bem
fui para o outro lado
aprendi pela dor
e a corrente que leva tudo
também levou meu amor

é hora de voltar
de fazer o contrário da viagem
agora sem bagagem
até me transformar
novamente
na folha branca de Rousseau

quando terminar
receio que a vida
me faça recomeçar
e viver tudo de novo
sucessiva e eternamente
nas tão faladas outras vidas

Scyla Bertoja

***

HUMANA

ora em recônditos nichos
Hamlets rebelam-se
e me exaltam os ânimos
a resolver com um punhal
os problemas da vida

ora um anjo sussurra-me
o salmo vinte e três
e me deixo descansar
em verdes pastos
ao som de coros celestiais

ora me inquieto
e pondero se valeu Perséfone
ser condenada ao Hades
por não ter resistido
a uma doce romã

ora me descubro humana
com um segredo de Midas
a desafiar-me a coragem
a expor minha fragilidade

ora temo
entre orações e poções
a chegada
das monções

Scyla Bertoja

terça-feira, 5 de abril de 2011

Resumo bibliográfico__Vitor Hugo

RESUMO BIBLIOGRÁFICO:

"Logo mais, na restauração,
Uma bandeira tremulará em toda parte, ao lado de todas: A da Paz;
Um idioma se falará junto aos demais: O da Fraternidade;
Um ideal se fará presente no meio dos outros: O do progresso;
Uma Religião única estabelecerá a ponte de união
entre o Homem e Deus: A do Amor Universal...."

Vitor Hugo

A música__Charles Baudelaire

A Música

A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!

O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;

Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões

Conseguem a minh'alma acalentar.
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrivel me exaspera!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães

Mario Quintana

DESTINO ATROZ

Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando ele os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.

Mario Quintana (Caderno H)

***

SEMPRE QUE CHOVE

Sempre que chove
Tudo faz tanto tempo...
E qualquer poema que acaso eu escreva
Vem sempre datado de 1779!

Mario Quintana - Preparativos de Viagem

***

DOS MUNDOS


Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.

Mario Quintana - Espelho Mágico

***

RECORDO AINDA

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Mario Quintana

***

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mario Quintana - A Cor do Invisível

***

O SILÊNCIO

Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, n ão quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

***

Um bom poema é aquele que nos dá a impressão
de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

Poemas de Nety Maria Heleres Carrion

Vigília poética

Escalo os picos mais altos
em busca da arte das artes
que se banqueteia
na demência do verso e parte
sem rumo
sem céu e sem chão
que abrigue e dê substância
ao seu dom

Vigio a arte e a arte me vigia
numa vigília poética
sacudida pelas sementes
da poesia
que transpassam quimeras
e pousam nos versos

Nety Maria Heleres Carrion

***

Plenitude

O sábio
atrai a plenitude do pensamento
para dentro do oráculo do templo
enquanto vozes descabeladas
estouram em campo aberto

O sábio
verte conhecimentos e despenca
no ser ou não ser

O sábio
constrói seu estandarte
embasado na meditação
que o leva aos píncaros do deserto
onde abstrai a lógica
e busca fantasia filosófica
da questão

Nety Maria Heleres Carrion

***

SOS

Um novo dia pede passagem
de ida e volta

Um novo dia que o anterior
amorteceu e apagou

A teia de babel risca o céu
dispersa labaredas
enrosca línguas
flamejantes e lança
riqueza ortográfica
sobre as redes vivas
da imaginação

A noite enferma
transporta o peso devastado
da terra

Expectadores inertes
esperam que a terra não vacile
na sua tortuosa trilha
imposta pelo desleixo
de quem a recebeu
por empréstimo

Numerosa platéia assiste
ao desmoronar da terra
que estende
braço amigo e ampara
perplexa
a seus filhos

A terra derrama copiosas lágrimas
sobre seu manto
onde criaturas pensantes
cospem chamas

SOS
nos céus
nas terras
nas águas
pois a terra alegra-se
com sua doação e chora
pelas extravagâncias

Nety Maria Heleres Carrion

***

Linhas

Rabisco linhas
sem princípio
nem fim
esperando que segredem
o que querem de mim

Nety Maria Heleres Carrion

quinta-feira, 31 de março de 2011

Poemas de Nety Maria Heleres Carrion

Soldo da noite

Viro
desviro a noite
e solto o verbo
como quem não quer
nada

Saio
a procura do nada
e nada encontro
a não ser
o soldo
da noite

Nety Maria Heleres Carrion

***

Ata

O pouco que sei
registrei em ata
que retrata
meus passos na calçada

O pouco que sei
poetisei
para que não se perca
na lufada
do vento

Nety Maria Heleres Carrion

***

Sonhos multicores

Me insiro no contexto
erigido pelo meu pensar

Percorro o espaço sideral
e desafio regras e conceitos

Com asas da liberdade
voo em busca do meu eu
que rejeita togas do saber
uso de vernáculos
e concordâncias
enraizadas na língua

Quero deslizar
em fuga monitorada
pelas telas da imaginação

O que eu quero
é cantar
é chorar
é viver
no cenário aristocrático
da poesia

Eu só não quero
é deixar a poesia à deriva
sem salvo conduto
pois é meu arrimo
é parte de mim
e eu sou parte dela

Eu só não quero
é me enclausurar em versos
malversados
pela obediência cega
aos rituais impostos
pelas tábuas demagógicas
da linguagem

Nety Maria Heleres Carrion

***

O oscar da poesia
desprende sais de alegria
que induz o poeta
na marcha em busca
da perfeição
do absoluto e do belo
que propõe a poesia

Nety Maria Heleres Carrion

***

Farelos da fala

Envolvo céus e terras
com o universo teimoso
do olhar

Que me segura
que saltita nos ares
que dispara cascatas
de ilusões

Libero a consciência
e me delicio
e adormeço
enclausurado no tempo
sem ida nem volta

Não penso na consequência
qualquer que seja
o desfecho

Fecho o livro tremido
com a fala que o absorve
gole após gole

Engulo os farelos
da fala

Concluo obra por obra e passo
fantasia chorosa

Acordo sem teto e sem chão
cada vez que o coração
é tomado pela emoção

Nety Maria Heleres Carrion

***

Viro do avesso

Nas minhas juras
até juro
desconjuro
creio
desconfio
viro do avesso

Juro e só paro de jurar
quando a jura não surtir
efeito

Corto as juras
em mil pedaços
para que não levantem falso
e despedacem
as juras que faço

Nety Maria Heleres Carrion

domingo, 27 de março de 2011

Velhos tempos__Jane Beatriz Ehlers Ruiz

Velhos tempos

Antigamente os pais acreditavam
no professor

Hoje
os pais acreditam nos filhos

Amanhã
o que será do filho

Jane Beatriz Ehlers Ruiz

Em http://ehlersruiz.blogspot.comm/

Poemas de Dilson Zanenga Ramos Ruiz

Coitada

não fez nada e apanha tanto
Todo mundo chuta
todo mundo quer chutar
É de bico é de boleio
até de soco
às vezes
Jogam-na pro mato
dizendo que é jogo
de campeonato
e coitada
volta arranhada
Dão de sola
jogando-a para escanteio
Todos batem
sem dó nem piedade
dizem que é coisa feita
sina ou destino
Sei lá
Só sei que a bola nasceu mesmo
é pra apanhar

Dilson Zanenga Ramos Ruiz
Em http://ehlersruiz.blogspot.com/
***

Pé quebrado

Um poema
que li no ônibus
não tinha sentido
nem sentimento
É um arrependimento
O poeta estava pouco inspirado
fez um verso
de pé quebrado

Dilson Zanenga Ramos Ruiz


***

Passe livre

Nos bancos da frente
dos ônibus da Capital
muitos anos acumulados
experiência
idade
esperança
Sorriso estampado
pelo direito adquirido
legitimamente

Dilson Zanenga Ramos Ruiz

***

Parente

E na noite quente
o mosquito
virou meu parente
Sangue
do meu sangue

Dilson Zanenga Ramos Ruiz

Poemas de Zaira Cantarelli

mar
    rio
     pirata
         ata
    desata
afluentes
que em mim
desaguam.

***

Na noite
pedaços de silêncio
jorram segredos guardados
no outro lado da luz.
A lua surge e me diz:
- uiva !
e eu pulo para cair
dentro de ti.

Zaira Cantarelli

sexta-feira, 25 de março de 2011

Bilhete__Mario Quintana

BILHETE

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana

Ficar__Dilson Zanenga Ramos Ruiz

Ficar

Como é bom ficar
mexer
guardar
arrumar
organizar

É muito bom sair
mas melhor ainda ter pra onde voltar
porque há momentos na vida
em que tudo que queremos
é voltar pra casa
pro aconchego do lar

Dilson Zanenga Ramos Ruiz
janeedilsonzanenga@gmail.com

Vida__Jane Beatriz Ehlers Ruiz

Vida

Deixa te envolver pela música
da vida

Escuta e te envolve
pela letra

A letra você faz
a entonação de voz
você tem

O ritmo
você conduz

O som
você deixa propagar
e ela vai de vento em popa
porque o melhor da vida
é deixar que ela flua
pelos contornos floridos
que você
da melhor maneira
quer conduzi-la

Seja você
o condutor desta maravilha
que é a vida

Jane Beatriz Ehlers Ruiz
janeruiz@hotmail.com

Poemas de Dio Santanna

1
arde
entre
os ossos
e a alma
resto-me

2
se esse tal
de destino
está brincando
comigo
não sei não
agora é tarde....
já entrei
na contramão.

***

quero perder-me
até que minha
alma
beba a última
gota

***

ao querer-te
me desfaço
de meus eus
e volto
a perder-me

***

por debaixo
da pele
entre
a carne
e os ossos
estás tu

***

teu gosto
invade
minha boca
e mato
minha fome
de ti...e quero
mais e mais
e volto a querer

***

teu olhar
ainda assim
não consegue
mentir
tuas ausências
ainda assim
te trazem pra mim

***

ainda trago
sob minha pele
teu cheiro
de homem
que não sai
de mim

***

ainda

eu
em
mim

***

arde
entre
os ossos
e a alma
resto-me

***

se esse tal
de destino
está brincando
comigo
não sei não
agora é tarde....
já entrei
na contramão.

***

mente
tua mente
teu gozo
é meu confidente

entre
ela e eu
um elo
poesia

Dio Santanna
Em http://http://wwwfrida-almanua.blogspot.com/

O Livro sobre Nada__Manoel de Barros

O Livro sobre Nada
Manoel de Barros


* Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
* Tudo que não invento é falso.
* Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
* Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
* É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
* Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
* Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
* A inércia é o meu ato principal.
* Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
* O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
* A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
* Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
* Por pudor sou impuro.
* Não preciso do fim para chegar.
* De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra — Como um lápis numa península.
* Do lugar onde estou já fui embora.

quinta-feira, 24 de março de 2011

José Eduardo Carrion

Na forja
se aquece o ferro

A ferradura
o ferreiro
com o malho modela

Firma o cavalo nas patas
puxa a carruagem
de alguma criatura

José Eduardo Carrion

***

Levando às costas

a mochila
pequena picareta
cantil
com água potável
marmita
com refeição fria

No coração
saudade da família

José Eduardo Carrion

***

Vende-se uma gata
angorá
com cria

Quatro filhotes

de brinde

José Eduardo Carrion

Mudo a tudo__Nety Maria Heleres Carrion

Mudo a tudo
mudo tudo

Mudo meu sol
mudo meu chão
escorrego nas farpas
do coração

Só não mudo o meu tudo
por nada deste mundo

Só não mudo

porque mudo a este mundo
não sou

Nety Maria Heleres Carrion

Que rei sou eu__Nety Maria Heleres Carrion

Que rei sou eu
sem palácio sem coroa
vivendo à-toa
vida má nem boa
a espera do novo
a bicar a casca do ovo
para entrar em cena e devorar
estátuas empertigadas

Que rei sou eu
a imolar o mundo da fantasia
no fundo de um palco fosforescente
onde se transfigura a criatura

Que rei sou eu
que toda noite se veste
com as cores da ilusão e desfila
na passarela do sonho

Que rei sou eu

que pernoita na plataforma
afrodisíaca do pensamento
e colhe mensagens
que liberam ósculos da liberdade
retidos nas malhas do universo
pelo portal soberano dos deuses

Que rei sou eu
lacaio dos próprios desejos
estocados no balaio
do pensamento

Que rei sou eu

na magreza dos dias
coleira de ouro rasgada
puída pela nobreza
vegetando no silêncio
na solidão do asfalto
cadafalso da noite estrábica
no mar da desilusão

Que rei sou eu

astro que vira capacho
da arte dramática
espelho da desordem
num mundo vesgo

Que rei sou eu

que anda na lua e retorna
aos farrapos
até cair no cansaço
do mundo oco

Massacre
de ídolos dourados

Nety Maria Heleres Carrion

Dio Santanna

1
sou o que
pude
de mim

2
alas rotas"

te voy a sentir
aunque te vayas
de mí...

mi vuelo
me llevará
y lo que será
será...

3
escancaro
minha poesia
que respinga
teu vazio
de vida

4
onde vou
te encontro
em mim

e te exorciso

em cada
gozo
não sentido

5
venho a mim
uma vez mais

Dio Santanna
Em http://http://wwwfrida-almanua.blogspot.com/

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eu e o mundo__Nety Maria Heleres Carrion

Eu e o mundo

Exponho o meu eu ao mundo
sem preconceitos

O meu eu tem horizontes
centrados no lirismo da poesia

Abriga o eu do mundo
num compromisso poético

Capta melodias
contrastes e mescla
a sabedoria do mundo

O meu eu
que é o eu do mundo

Eu e o mundo

Nety Maria Heleres Carrion
Em http://gotasdamemoria.blogspot.com

Quase que a noite__José Eduardo Carrion

Quase que a noite
me atropela

José Eduardo Carrion

Mergulho__José Eduardo Carrion

Mergulho
na escuridão
para enxergar
a verdade

José Eduardo Carrion

O céu é o limite__Nety Maria Heleres Carrion

O céu é o limite

Convoco céus e terras
num elo de oração

Recebo óbolo
reparto em mil pedaços
e peso cada ato
para que de fato
surta o efeito desejado

Me desarmo
da cabeça aos pés
para que tudo flua
com sentimento e fé
e nada nada se perca
por entre arestas negativas

Derreto o gelo
ao longo do caminho e rego
o chão do mundo
com mil gotas perfumadas

Nessa jornada poética

Acredite

O céu é o limite
para todo aquele
que sai pelo mundo da fantasia
e gagueja nas letras
até chegar ao verso
sem receios ou medos
em busca de respostas
para seus devaneios

Nety Maria Heleres Carrion
Em http://gotasdamemoria.blogspot.com

Por Momentos__Rosalva Rocha














Por momentos
(por Rosalva Rocha – 15/03/11)

Por momentos
Sou eu mesma, mulher normal
Em outros
Uma camaleoa
À toa
Que voa
Que troca a pele
E repele
Muito do que vê pela frente

Por momentos
Sou plena, satisfeita
Em outros
Um cão sem dono
Sem adorno
Morno

Por momentos
Sou alegre, feliz
Em outros
Uma enxurrada de lágrimas
Que varre o meu rosto
Nas madrugadas

Momentos díspares
Contraditórios
Que me enlouquecem
As vezes fortalecem
As vezes esmorecem

Momentos de uma mulher
Que precisa centrar-se
Para penetrar
No seu próprio “eu”
Um “eu” as vezes desconhecido
Mas sempre perseguido
Para poder flanar
Por esse mundo
Tão cheio de contradições
Onde nem sempre há perdão
Com tanta solidão
Mas com tamanha emoção

Por momentos sou assim
Uma nuvem que passa
Deixa o seu rastro
E retorna na próxima noite
Com certo descompasso

Mas nuvem é tênue, leve
E com essa leveza
Pretendo levar a minha vida
Sem pensar no que acontecerá
Transformando-a em berço
Para eu descansar o meu corpo
E ter consciência de que mereço

terça-feira, 22 de março de 2011

Estações__Paola Caumo

Colher de chá__Mario Pirata

Alice disse,
ou o chapeleiro?
Nem um, nem outra.

Falar poesia, uma por uma,
antes que ela suma,
pois falar da burrice
é uma tolice.

A mão seguiu a boca,
depois escreviveu
para a Rainha Louca.

Assinando,
fiel brincadeiro.


Em http://mariopirata.blogspot.com/

Razão de ser_Paulo Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Os poemas_Mario Quintana


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

em Esconderijos do Tempo