quinta-feira, 24 de março de 2011

Que rei sou eu__Nety Maria Heleres Carrion

Que rei sou eu
sem palácio sem coroa
vivendo à-toa
vida má nem boa
a espera do novo
a bicar a casca do ovo
para entrar em cena e devorar
estátuas empertigadas

Que rei sou eu
a imolar o mundo da fantasia
no fundo de um palco fosforescente
onde se transfigura a criatura

Que rei sou eu
que toda noite se veste
com as cores da ilusão e desfila
na passarela do sonho

Que rei sou eu

que pernoita na plataforma
afrodisíaca do pensamento
e colhe mensagens
que liberam ósculos da liberdade
retidos nas malhas do universo
pelo portal soberano dos deuses

Que rei sou eu
lacaio dos próprios desejos
estocados no balaio
do pensamento

Que rei sou eu

na magreza dos dias
coleira de ouro rasgada
puída pela nobreza
vegetando no silêncio
na solidão do asfalto
cadafalso da noite estrábica
no mar da desilusão

Que rei sou eu

astro que vira capacho
da arte dramática
espelho da desordem
num mundo vesgo

Que rei sou eu

que anda na lua e retorna
aos farrapos
até cair no cansaço
do mundo oco

Massacre
de ídolos dourados

Nety Maria Heleres Carrion

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